quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A realidade nua e crua

O trânsito no Timor Leste, como falei anteriormente, é um caos. Na Ásia em geral é assim, pelo menos é o que ouço e leio e o youtube esta aí pra comprovar. As vezes até existem as leis de trânsito, mas não existe fiscalização e muito menos, por parte da população local, bom senso.

Esta semana (domingo 04/11/2011) aconteceu um acidente em que um malae, em que uma toyota prada bateu de frente em uma moto. Em uma das principais avenidas da cidade de Dili. Uma das principais rotas para o aeroporto. Neste trecho (bairro de Comoro) acontecem várias merdas.
A avenida quase de frente o palácio presidencial e um exemplo de mikrolet.
Pelo que consta até agora o malae estava na contra-mão, ou seja, errado. A moto transportava três pessoas: um adulto e duas crianças, errado também. Uma das crianças morreu na hora. O adulto e a outra criança tiveram ferimentos graves e estão no hospital.

Pois bem. Vendo o jeito em que se comportam no trânsito imagino o seguinte: o pai estava de capacete (daqueles com a frente toda aberta) mas sem afivelar. E as duas crianças sem capacete. Sendo uma na frente do pai e a outra atrás na garupa. Não sei se estava assim, mas 99,9% das vezes em que se tem mais de uma pessoa na moto (e isso é muito mais comum do que se imagina) é essa a configuração.
A direita na foto um exemplo
Outro exemplo
Ok, mais um acidente de trânsito e a justiça vai resolver né? Que nada. O malae até tentou prestar socorro, mas teve que correr para dentro de uma lojinha pois começaram a apedrejar ele e o carro. Danificaram bastante o carro, a loja e a casa (de um timorense) onde ele se refugiou. Isso tudo de frente ao palácio presidencial. Este malae só saiu de lá escoltado pela PNTL (Polícia Nacional do Timor Leste) e pela GNR (Guarda Nacional Republicana - polícia de Portugal e a mais temida). E mesmo assim com tiros para o alto!

Esse comportamento nada civilizado é ainda agravado. Nos dias que se seguem malaes tem seus veículos atingidos por pedras quando passam por este local. Ao ponto de ser recomendado que mudemos de rota para se alcançar o outro lado da cidade.

E ainda piora! Nos noticiários (e nos comentários nas ruas também) o que se vê é: o malae tem que pagar alguma compensação financeira. Tipo uma indenização. Mas é somente sobre isso que se fala! Já não ligam mais para a criança que morreu (pelo menos essa é a impressão). E o valor fica por volta de US$ 5000.00! Tudo que envolve algo ruim com algum malae é somente a compensação financeira que interessa à eles.

Tudo nisso surpreende pelo surrealismo. A reação inicial ainda torna-se tolerável pelo choque, pela dor. Mas o resto não tem explicação. O apedrejamento dos carros. O pedido de compensação financeira.

Agora, o que ninguém daqui fala é que: tinham três pessoas na moto. Provavelmente sem capacete. Na rua não existe sinalização. Não existe fiscalização. As autoridades não falam em sinalizar a via. Em recolher veículos ilegais. A contra-mão é onde você e os outros motoristas, que estão lá, acham que é. Se estão estacionados (quando não param no meio da rua) e vão sair, foda-se quem vem atrás, a preferência é deste que estava estacionado. Ou você desvia, ou para ou então bate.

Não existe fiscalização de nada. Os táxis são todos velhos (por fora enganam muito bem) e muitos não tem habilitação e nem condições de circular. Os biz (ou seria bis?) (ônibus de viagem) carregam gente no teto, atrás, dependurado, etc. Acontece acidente e morre muitos de uma vez. Tem uns caminhões também que transportam gente. A poucas semanas um desses desceu uma ribanceira. Parece que morreu mais de 7. O resto conseguiu pular antes da merda maior. As mikrolet's sempre com gente despendurada. As motos caindo aos pedaços ou tunadas: sem farol, sem retrovisor e com pneu tão fino quanto de uma bicicleta. Segundo eles o retrovisor é muito feito.
Não estou defendendo o malae, até porque, até agora, foi ele quem causou o acidente.
Biz na estrada

Na estrada

Na estrada

Na estrada

Na estrada
Mas hoje saiu uma conversa de que os acidentes são provocados somente por malae. Não, não são provocados SÓ por malae. Sim, malae corre, malae se envolve em acidente, malae faz barbeiragem. Mas para eles somente os malaes são irresponsáveis. Isso é papo para tentar desestabilizar, jogar os timorenses contra os malaes.

Vou parar por aqui pois outras histórias (ou seriam estórias?), ainda mais escabrosas, que já ouvi não merecem divulgação.

Se eu não encontrava bom senso e civilidade no Brasil não vai ser aqui que vou achar.

Eu me seguro muito para não falar das mazelas daqui pois, como qualquer lugar do mundo, elas existem. Outras mais absurdas, outras menos absurdas. Temos que levar em consideração também que é um país muito novo, com democracia recente, que foram bastantes oprimidos e tal. Que falta infra-estrutura geral e que eles tem sua cultura particular. Mas me incomoda, igual me incomodava no Brasil, a falta de civilidade.

Pronto, desabafo feito bora tocar a vida pois a maioria deles são legais e respeitosos, pelo menos os que eu convivo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ilha de Jaco

Quase não escrevi. É mais fotos com legendas. Elas falam por si. E olhe que as fotos (de um amador) não retratam o que a gente vê direito, com a grandeza e a beleza.

Um pouco de conhecimento:
O Ilheu de Jaco é um território pertencente ao distrito de Lautém no Timor Leste. É uma ilha sagrada para o povo timorense. Não se pode pernoitar lá. Os próprios barqueiros timorenses se encarregam de levar todo mundo e buscar. E eles cobram por isso. US$ 6,00 por pessoa. As 17h horas já é hora de de sair. Tem 'causos' de gente (se não me engano holandeses) que dormiram lá e foram deportados do país. Então vê-se que levam muito a sério essa questão.
 Lá não existe infra-estrutura. Para chegar lá é uma aventura. Não vi poluição, sinal de que todos que vão trazem de volta o seu próprio lixo.

O objetivo
Foto da internet
Todo mundo que já foi falava que era estúpido de bonito. Então juntamos uma turma de amigos brasileiros (Carlos e Giselle e Junior e Diane) e um português (Duarte), além desse que escreve, e rumamos para Com (um suku no sub-distrito de Lautém e distrito de Lautém). Onde ficaríamos hospedados no Com Beach Resort.
Não tinha grande expectativas com o lugar (Com) imaginando a falta de estrutura geral do Timor Leste. Já sabíamos que a eletricidade era somente das 20h até as 8h. Durante o dia o calor infernal do Timor Leste agravado pelo fato de os quartos serem containers com revestimento de pedras para ficarem bonitinhos. Ar condicionado só a noite.
Deixaríamos nossas bagagens nos quartos e rumaríamos para o sub-distrito de Tutuala e de lá para a Ilha de Jaco.

A viagem
Imagem tremida mas que mostra como é a estrada em grande parte do percurso.
Ponte onde só passa um carro por vez
Estrada
Acordamos as 4h:30 de sábado e pegamos a estrada por volta das 5h:30. Apesar de não ser longe (uns 230km) além de grande parte das estradas serem de serras, com curvas em que você vê a placa traseira do próprio carro, tem muitos, mas muito mesmo, buracos. Ah e são estreitas também.
A viagem aconteceu sem problemas além das sacudidelas.
Como eu era passageiro fiquei só tirando fotos. Muitas. Só na ida umas 500. Mas como tirava de dentro do carro muitas ficaram tremidas e foram poucas que aproveitaram. No total de 800 fotos consegui aproveitar umas 150. É o ditado: normalmente a quantidade não reflete a qualidade. Mas mesmo assim deu pra captar muitas paisagens lindas, cenas bucólicas e da dureza do interior do Timor Leste.
O amanhecer
Saímos da capital Díli (distrito de Díli) e passamos pelos distritos de Manatuto, de Baucau e Lautém. Os sub-distritos e sukus não lembrarei os nomes.

Uma das várias feiras
Arrozal
 Uma parada para irmos ao 'banheiro' e com uma visão espetacular de um vale:

Panorâmica
Uma parte dos aventureiros e os 4x4. Você pode até chegar lá sem ser 4x4, mas vai sofrer um pouco mais que nós.
Detalhes de uma vila
O mengão e um barrigudo no Timor Leste.
Continuamos na estrada com mais cenas interessantes antes de chegar em Baucau:
Outra feira

Ah se fosse sempre reta 
Campo de futebol gigante. Cada time deve ter uns 30 jogadores
Brasillllll
Pousada portuguesa em Baucau. Local de almoço na volta
Cemitério
Igreja
Enfim chegamos em Com, no resort. Muito bonito. Me surpreendi!



A 'rodovia' passa no meio do resort 
Essa primeira porta a esquerda foi o quarto em que fiquei. Bonitinho por fora e muito quente por dentro. 

Maré baixa

Maré alta
A noite, depois da janta e quando todos foram dormir, on line, escutando o barulho do mar e falando com a esposa no Brasil. 
Enfim, lugar muito bonito mesmo. Só que durante o dia não dá pra ficar dentro dos quartos e a praia é cheia de pedras. Tem que ficar coçando ou então ir pra Jaco como fizemos :)
Só faltou combinar com murphy. Na parte mais difícil do caminho começa a chover. Não uma chuvinha qualquer. Um temporal. Que junto com a mata fechada parecíamos estar dentro do seriado Lost.
Últimos momentos de sol

Escola
Dá pra parar pra pensar na vida
Tá chegando...
Tá quase...
Chegou... (a chuva)

Vai encarar?
Cade a floresta que estava aqui? 
E mesmo assim o lugar é lindo. 
Pena que não tinha condições de ficar. A cada momento parecia que a chuva só aumentava.  O jeito é voltar para Com.


Escondendo da chuva
Mas no segundo dia olha só que sol! Pegamos a estrada novamente e rumamos para Jaco, antes uma parada em Tutuala. A vista lá da antiga casa do governador (da época da colonização portuguesa) é ignorante!







Chega né. Vamos chegar logo em Jaco que tá começando a ficar chato. Pena  que não registrei foto, mas no dia anterior tinha um poste tombado quase caindo sobre o projeto de estrada. Neste dia ele tinha caído. Mas já tinha um grupo de portugueses arrastando ele com uma 4x4. Só fomos ajudar e o Carlos achou algum bixo com peçonha (um escorpião?) e tomou uma ferroada. Momento tenso. Mas mesmo com a dor ele prosseguiu. No fim tudo deu certo. 

Maré baixa, ainda do lado 'continental' do Timor Leste.
Coral
Muitos corais
Tá chegando
Do lado direito Timor Leste do lado esquerdo Jaco

Toca o barco


Que tal a chegada?




Longe de tudo. Sem nenhuma infra-estrutura. O lugar mais bonito que já fui até hoje. 


Pousada no 'continente' de frente pra Ilha de Jaco

No final das contas salvaram-se todos (menos minha pele, virei um camarão rosa). Vale a pena qualquer perrengue, qualquer dificuldade. 
É um lugar paradisíaco. Um dia inteiro sem fazer nada. Só curtindo esse visual maravilhoso. E quando se está lá e imagina onde você está no globo terreste fica mais foda ainda.
Só não foi perfeito pois a esposa não estava. Mas isso vai se resolver logo logo. :)

As próximas fotos são da volta na segunda-feira. Todas no distrito de Baucau.
Mercado português da época da colonização. Infelizmente abandonado.

A primeira tentativa de almoçar. Lotado.
Gruta
Feira
Crianças
Bife com molho de café na pousada portuguesa. Uma delícia.